ENTOADA


Chego à janela, observo o dia chegar. O céu ainda escuro de um lado, cintila suas estrelas, agonizantes com a luz que chega ao redor. Na cidade lá em baixo, vejo suas luzes piscarem sob um veludo escuro e silencioso que corta o horizonte, protegendo o frágil desenho dos prédios. Pincelando a baía, surge o sol impetuoso, ascende o dia! Mas na redondeza vejo ainda a noite, o desespero dos morcegos e a agonia das cigarras entoando um cântico trágico. Foi-se o silêncio, surrupiado pela sinfonia enlouquecedora, angústia do inevitável. No véu suntuoso do alvorecer surge o reinado da estrela da manhã, e faz brotarem pássaros dos telhados como flores primaveris, que esperançosos, entoam uma cantarola varonil e alegre. Curioso... na redondeza ainda era escuro como madrugada! Surge entre a luz magra do poste a figura de um homem, pobre ser de relógio de pulso, alheio ao tempo das cigarras, dos morcegos e dos pássaros, das flores, da luz... Alheio a tudo! Assim, vejo-o diminuto e o perco! Some na escuridão daquele resto de madrugada, um ínfima parcela do todo, foi... ignorante.

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